Um exame realizado em ratos analisou o uso de exercícios físicos como alternativa para superar a abstinência do uso de cocaína.
Apesar do sucesso para tratar a dependência em outras drogas, nenhum remédio foi capaz de impedir a recaída no desejo por cocaína. Embora alguns deles se mostrem promissores, sua eficácia provou ser variável e há vários efeitos secundários.
Como o exame foi realizado
Após 10 dias “usando” cocaína, os ratos foram colocados em abstinência por 14 dias. Um grupo de teste recebeu um placebo com uma solução salina em vez da droga. Durante este período, os ratos tiveram acesso a uma roda de corrida durante duas horas por dia ou foram colocados em caixas semelhantes, mas com a roda travada. A procura de cocaína foi avaliada após o 14º dia de abstinência.
Resultados promissores
Correr na roda diminuiu a procura de cocaína tanto durante a extinção quanto na reintegração. A busca de cocaína foi positivamente associada com os níveis de atividade córtex pré-frontal. Enquanto os níveis de atividade neural não eram diferentes entre os ratos com controles salinos, no grupo da cocaína os níveis de atividade no córtex pré-frontal foram significativamente diminuídos pelo exercício.
O exercício aeróbio pode ser uma alternativa ao remédio e pode ter benefícios secundários à saúde, como por exemplo na prevenção da obesidade. Os resultados mostraram que duas horas diárias de exercício reduziram de 35% a 50% o desejo pela droga.
Resetar o relógio biológico
Ao imitar os efeitos da cocaína, através da manutenção de níveis elevados de dopamina, o exercício pode “resetar” o relógio biológico de tempo de abstinência. Uma possibilidade adicional é que o acesso a um novo ambiente estimulante – a roda de corrida – durante os períodos de abstinência pode ter deixado as sugestões associadas à cocaína menos evidentes e os ratos podem ter ficado menos motivados para responder a elas.
O exercício aeróbio tem o potencial de funcionar como um tratamento para a recaída bloqueando neuroadaptações no córtex pré-frontal que se desenvolvem durante um período de abstinência. Não se sabe se o exercício pode sustentar essas neuromodulações a longo prazo. No entanto, esses achados revelam benefícios neuroadaptivos do exercício para atenuar o comportamento de busca da cocaína após a abstinência prolongada. Além disso, eles sugerem que o exercício deve ser avaliado como um tratamento potencial para a recaída da cocaína, tanto sozinho como também um complemento à farmacoterapia.
O impacto dos exercícios físicos
O exercício ativa a mesma via de recompensa que a cocaína, através de aumentos nas concentrações de dopamina, impedindo as recaídas na dependência.
Embora o exercício como terapia para a dependência da cocaína não tenha sido bem estudado, dados recentes em fumantes sugerem que ele pode ser uma intervenção útil contra a dependência. O exercício aeróbio tem demonstrado aliviar os sintomas de abstinência, diminuir o hábito de fumar e reduzir os níveis de desejo. Também foi relatado que alivia a depressão e reduz as medidas de ansiedade, fatores conhecidos por contribuir para o desejo por cocaína.
Referência bibliográfica:
Aerobic exercise attenuates reinstatement of cocaine-seeking behavior and associated neuroadaptations in the prefrontal cortex
Autores: Wendy J. Lynch1,*, Kristen B. Piehl1, Glen Acosta2, Alexis B. Peterson1, and Scott E. Hemby2.
1Department of Psychiatry and Neurobehavioral Sciences, University of Virginia, Charlottesville, VA 22911
2Department of Physiology and Pharmacology, Wake Forest University School of Medicine, Winston-Salem, North Carolina