A relação entre fissura e perfil antropométrico em usuários de crack

Derivado da cocaína, o crack é uma droga com potencial de abuso, isto é, ele pode levar um indivíduo a dependência química. O crack teve um aumento de consumo em nível mundial, tornando-se um problema de saúde pública.

No Brasil, temos acompanhado uma discussão crescente sobre o vício nesta droga devido às ações recentes da prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia, conhecida por ser um polo de usuários do crack no centro da cidade.

Profissionais do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP) realizaram um estudo que analisou um dos pontos-chave na superação da dependência que é denominado como fissura ou craving. Esse sintoma aparece tanto na fase do consumo como na fase de abstinência.

 

Analisando a fissura

 Atualmente, a fissura é um dos grandes desafios no tratamento de dependências químicas, pois não existem fármacos que consigam evitar essa sensação que pode ser responsável por levar uma pessoa a uma recaída no processo de desintoxicação.

Esse estudo analisou 30 indivíduos que estavam internados para o tratamento de desintoxicação do crack. Como primeiro passo foi utilizada a aplicação dos questionários de dados sociodemográficos, identificando características para avaliação do sujeito e de seus hábitos de consumo, além do Cocaine Craving Questionnaire (CCQ), adaptado para crack.

O segundo passo foi a avaliação antropométrica individual, que levou em consideração dados físicos como peso, quantidade de massa magra, mensuração de dobras cutâneas e medidas ósseas.

O último passo foi uma nova avaliação antropométrica, realizada 24 horas antes do final da internação.

 

Achados

A pesquisa identificou que há uma correlação negativa de intensidade moderada com o último consumo, ou seja, quanto mais recente é o último uso de crack, maior é a fissura.

Esse achado permite avaliar estratégias de Psicoeducação para os pacientes no início do tratamento, quando há um desejo maior em fazer uso dessa substância.

Um ponto importante se refere às alterações no corpo dos pacientes, houve um aumento de gordura no corpo, porem sem um aumento significativo de massa magra, e isso requer atenção, pois o crack pode debilitar a musculatura do dependente, e com isso influenciar ou agravar doenças metabólicas como doenças pulmonares e psíquicas.

No entanto, o estudo mostrou que a fissura diminuiu significativamente durante a internação.

 

Exercício como complemento ao tratamento de desintoxicação

 A Movimente compreende que a inserção de atividades físicas personalizadas para os pacientes auxilia no tratamento de dependências, pois atua no sistema de recompensa cerebral atenuando a fissura, além de evitar o aumento de gordura no corpo e fortalecer a musculatura, trazendo benefícios importantes para a saúde física e mental dos pacientes.

Para isso deve-se considerar as informações antropométricas de cada indivíduo, aliadas a informações de sua saúde mental para desenvolver um programa de atividades que auxilie o paciente em sua recuperação.

 

Limitações do estudo 

O estudo apresenta como limitações: o tamanho da amostra, não delimitação de tempo mínimo e máximo de internação para segunda verificação de medidas e o fato dos pacientes usarem medicações psiquiátricas, bem como utilizarem outras substâncias psicoativas além do crack, que estão associadas a diferentes efeitos fisiológicos e psíquicos.

 

Referência bibliográfica

Associação entre fissura e perfil antropométrico em dependentes de crack.

Por: Alexandre Dido Balbinot, Gabriel Soares Ledur Alves, Alpheu Ferreira do Amaral Junior, Renata Brasil Araujo. J Bras Psiquiatr. 2011;60(3):205-9.

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